Uma nova chance a Fernanda
Não há como ignorar uma publicação de Fernanda Torres. Sendo quem é, só poderia vir coisa boa da atriz barra escritora. Depois da belezura do romance Fim, que a carioca lançou em 2013, a editora Companhia das Letras resolveu lançar uma compilação de textos que a artista escreveu para as revistas piauí, Veja Rio e o jornal Folha de S. Paulo, de 2007 até 2014. Não a toa o livro se chama Sete anos: crônicas.
Sendo uma global, Fernanda foi a vários programas de tevê para o lançamento do seu livro. Em todos – pelo menos os que eu assisti –, Fernanda sempre era questionada ou citavam uma crônica em especial, Despedida, em que ela descreve sobre o dia da morte de seu pai, xará e colega de profissão, Fernando Torres. O relato é uma das redações inéditas que a obra também traz. Tamanha a publicidade em cima de tal texto me chamou tanta atenção que eu fiquei enlouquecido para ler a antologia de crônicas. (A narração da triste madrugada recebe destaque até na contracapa do livro.)
Depois de ter adorado Fim, busquei Sete anos com a certeza que eu iria me apaixonar ainda mais pela família de Fernandos (que é um nome muito corrente na minha vida, aliás). Não há como negar que Fernanda é uma mulher politizada, bem informada, inteligente e cheia de conteúdo sobre todos os assuntos que procurou tratar, mas, confesso, que nem em todas as crônicas a leitura foi agradável. Tive preguiça de dar continuidade.
Sete vidas traz crônicas de todos os assuntos possíveis. Viagens, gravações em lugares exóticos, histórias curiosíssimas, política, partidarismo, assuntos contemporâneos (ou pelo menos eram há sete anos…). E talvez aí esteja o problema. Há textos que trazem praticamente todos os conceitos possíveis: Contos pessoais, fatos históricos e questões atuais, tudo junto e misturado. Às vezes, parece que ela tinha um deadline apertado, uma agenda lotada e nada na cabeça. Assim, escrevia sobre qualquer coisa sem graça.
Deixei Fernanda abandonada, admito – mas veja bem: abandonada, não esquecida! – em uma mochila que me acompanha todos os dias. Depois de um bom tempo entre minha agenda e um estojo, chegou um dia que não havia nada melhor para me fazer companhia do que ela. Abri com a certeza que eu deveria terminar de ler aquele livro. Devia isso a mim e a ela.
Por sorte nossa, havia parado em uma parte em que a autora trata de assuntos mais íntimos, que me aproximou dela. Fala-se da morte de Dercy Gonçalves, Eduardo Coutinho, João Ubaldo Ribeiro, Felipe Pinheiro… E entre essas, eis que surge a tão falada despedida que Fernanda faz a seu pai.
Quando fechei o livro após ter terminado uma briga que eu tinha armado com a artista carioca, fiquei com vontade de escrever. Alguma coisa me fez ter vontade de ter tanto conteúdo como Fernanda e ainda assim tão trivial e cheio de sentido.
Que venham mais romances! Que venham mais coletâneas de crônicas! Que haja sempre Fernanda Torres!
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SETE ANOS
Autora: Fernanda Torres
2014, 192 páginas, Companhia das LetrasOnde comprar?
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